Câmara avalia projeto que estabelece critérios mais rígidos e promete acabar com a 'farra dos municípios'
Os números são muito menores que os da chamada "farra", como foi apelidada a criação de cerca de 1,5 mil cidades entre 1988 e 1996, quando a Emenda 15 proibiu as assembleias estaduais de criar municípios indiscriminadamente. "Sem a Emenda 15, mais 2 mil municípios teriam sido criados", avalia Maia.
Desde a Emenda, contudo, 58 municípios foram criados e contestados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que cobrou do Congresso a elaboração de uma lei federal regulamentando os critérios que as assembleias estaduais deveriam seguir para aprovar novas cidades.
Pela nova regra também só poderá ser criado o município com população mínima 6 mil pessoas no Norte e Centro-Oeste; 8,5 mil no Nordeste; e 12 mil no Sul-Sudeste. Também será preciso comprovar viabilidade econômica por meio de estudo sobre a previsão de arrecadação, transferências de fundos federais e estaduais, despesas com pessoal e investimentos, capacidade de aplicar os valores mínimos em saúde e educação definidos pela Constituição.
Critica municipalista
Apesar de apontar vantagens, o presidente da confederação municipalista critica pontos vistos como falhos no substitutivo do deputado Maia. É o caso da falta de uma definição clara de distância territorial mínima entre um distrito com desejo de virar cidade e o centro do município que o integra. "Esse projeto de lei deveria ter pelo menos de definir uma distância, porque senão podem criar municípios separados por uma rua", diz Ziulkoski.
O municipalista também defende um posicionamento da lei quanto ao número de secretarias necessárias para a cidade operar. Segundo ele, a média atual é de 10 secretarias por prefeitura.
Essas pastas precisam ser criadas, de acordo com o presidente da CNM, para atender a demanda federal de se estruturar para receber recursos da União. "É obrigatório, por exemplo, ter secretarias de educação para receber repasses do Fundeb (fundo federal de educação) e de agricultura para acessar o Pronaf (programa de financiamento da agricultura familiar). Esse projeto de lei devia enxugar isso", afirma.
Ele alerta também para abertura que a Constituição dá em relação ao gasto com câmara de vereadores. Cidades com até 100 mil habitantes, a Câmara pode custar até 7% da receita do município. "É um percentual exorbitante", opina.
Fusão de distritos
Entre as novidades do projeto de lei está a possibilidade de distritos se fundirem a outras cidades - o que seria possível em caso de distritos cujas sedes administrativas estejam mais longe que a cidade vizinha.
Somente em São Paulo, segundo o deputado José Augusto Maia, existem 54 distritos dispostos a se unirem aos municípios já existentes. A fusão, na avaliação do deputado, vai ser mais comum na regiões Sul e Sudeste do que no Norte e Centro-Oeste, devido à existência de distâncias grandes entre as cidades. Maia cita Altamira, no Pará, como "o maior município do mundo" para ilustrar seu argumento. "O distrito de Castelo dos Sonhos está a mil quilômetros de Altamira", diz.
O presidente da Confederação dos Municípios, Paulo Ziulkoski, aponta a "incorporação e fusão" de distritos como a tendência que deve predominar diante da dificuldade de criar cidades.
Aval do Planalto
A proposta elaborada pelo deputado do PTB pernambucano está alinhada com o Palácio do Planalto, que deu aval para Maia criar um "fundo de trabalho interfederativo". O grupo debateu o tema por dois anos, apoiado no suporte técnico do IBGE, os ministério das Cidades, Fazenda e Planejamento.
Outro parlamentar que promete barulho é Raul Henry (PMDB-PE), que vai tentar tornar obrigatória a avaliação do estudo de viabilidade pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Tribunal de Contas da União (TCU).
Apesar dos protestos, o relator acredita na aprovação do projeto de lei. Como o projeto aprovado pelo Senado foi alterado pelo deputado, caso aprovado, ele deverá voltar para apreciação dos senadores.
G1.
Nenhum comentário:
Postar um comentário